Cegueira/ Blindness


"... Como pode ser que haja homens tão cegos, que com os olhos abertos não vejam as coisas como são? Dirá alguém que este engano de vista procede da ignorância. (...) Eu não pretendo negar à ignorância os seus erros; mas (...) digo que não são da ignorância, senão da paixão. A paixão é que erra, a paixão a que os engana, a paixão a que lhes perturba e troca as espécies, para que vejam umas coisas por outras. E esta é a verdadeira razão ou sem-razão, de uma notável cegueira. Os olhos vêem pelo coração, e assim como quem vê por vidros de diversas cores, todas as coisas lhe parecem daquela cor, assim as vistas se tingem dos mesmos humores, de que estão, bem ou mal, afectos os corações." (Padre António Vieira in Pedrosa. A eternidade e o desejo, 2008; p.67-68)

-x-x-x-x-x-x-

How could it be possible men so blind, who with open eyes do not see things as they are? Someone will say that this mistake of view comes from ignorance. (...) I do not intend to ignorance deny their mistakes; but (...) I say they are not of ignorance, but of passion. Passion is erring, the passion that deceives, the passion that disturbs them and return the species that they may see some things for others. And this is the real reason or unreason, a remarkable blindness. The eyes see by the heart, and so as seeing a glass of different colors, all things seem that color, so the views dyeing of those moods that are, rightly or wrongly, the assigned hearts. (Padre António Vieira in Pedrosa. A eternidade e o desejo, 2008; p.67-68)

Comentários